Autopsicografia
Fernando Pessoa
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem
o que escreve,
Na dor lida
sentem bem,
Não as duas
que ele teve,
Mas só a que
eles não têm.
E assim nas
calhas de roda
Gira, a
entreter a razão,
Esse comboio
de corda
Que se chama
coração.
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